então é isto..? O amor no mundo real não passa desta coisa insossa - "foi bom te conhecer", 'sim, foi, mas não dá mais', "espero que dê tudo certo pra você", 'pra você também...', "então, tchau!"; tchau-tchau, dão-se as costas, cada um vai pro seu lado, cabeça abaixada, fones no ouvido... As cores cinzas demais, as ruas escuras demais. Um silêncio nervoso de faróis que zunem ao lado. E um perambular moribundo entre sombras e poças de mijo. Este é o mundo real... Neste mundo real ela não volta correndo pros meus braços, arrependida e aos prantos. Neste mundo real eu não a chamo um segundo antes que o táxi parta. Não existem corridas de reencontro em câmera lenta sob a chuva. Neste mundo real a chuva que cai só serve pra tornar as coisas piores. Neste mundo real, sob a chuva, não há música de fundo - não tem John Lennon & "Here comes the sun".
No sun, not only not soon, but no sun at all... Sem grandes apelos. Sem grandes cenas ou grandes palavras... Mal-mal palavras... É assim. E pensar em tudo o que um dia eu li, ouvi e em que acreditei... A verdade é que o amor do Vinícius de Moraes não sai dos seus livros, ou dos seus discos, para dar as caras aqui, onde eu vivo. Nem o amor do Chico. Ou o do Milton. No lugar em que vivo, este mundinho chamado Real, não há nada que valha verdadeiramente a pena - como bem disse o Cioran, "nada vale mais do que nada". Aqui nossas vidas já nascem condenadas... Terminamos o serviço quando criamos a capacidade de ignorar as sensações e os sentimentos. Eu - ser humano um tanto tosco - ainda não... Ainda, minimamente (reconheço), deixo-me guiar pelo que sinto e que me sente... Mas não..! Somente pelo que sinto! E talvez resida aí toda fonte da minha inquietação. Este EU que há dentro de deus. Raiz também do próprio egoísmo. Eu sou eu e o outro é eu e tudo resume-se no Eu. O problema é que Eu espera demais do mundo. Eu espera que o mundo seja como Eu o quer. Mas a verdade é que talvez este mundo talvez não seja assim tão insosso quanto parece aos olhos famintos de grandeza deste Eu. Devo habituar-me à miséria, para assim alegrar-me com o pouco que me é dado - e com a mesquinhez das relações que no Real se cria - ou contentar-me com enganos, vivendo ora alegre, ora triste...
E pensar que a mirei nos olhos e enxerguei ali amor demais... Quanto engano! Hei de contentar-me!
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