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dimanche 3 juin 2012

ΕΙΣ ΔΙΌΝΥΣΟΝ: Para Dioniso


ΕΙΣ ΔΙΌΝΥΣΟΝ


Eis mais uma tradução de outra ode anacreôntica. Como se pode perceber, Anacreonte apresentava uma característica predileção pela temática (e consumo!) do vinho. Uma tradução mais próxima dos termos (e da ordem) usados no original grego seria a seguinte:




Τοῦ Διὸς ὁ παῖς, ὁ Βάκχος
O filho de Zeus, Baco,
Ὁ λυσιφρων, ὁ λυαῖος,
O libertador da mente, o Laio,
Ὅταν εἰς φρένας τάς ἐμάς
Assim que em meu peito
Εἰσέλθῃ, μεθυδότης,
Entra, embriagando,
Διδάσκει με χορεύειν.
Ensina-me a dançar.
Ἒχω δὲ καί τι τερπνὸν
E eu, o amante da embriaguez, tenho
Ὁ τῆς μέθης ἐραστής.
Desejo de satisfação.
Μετά κρότων, μετ’ ᾠδῆς
Com batidas e canções
Τέρπει με κ’ Ἀφροδίτα,
Delicia-me como Afrodite
Καὶ πάλιν θέλω χορεύειν.
E de novo quero dançar.

(Ἐκ τῶν Ἀνακρέοντος ὠδῶν)
(de uma ode anacreôntica)

Entretanto, se levarmos em consideração o conceito de transliteração (Haroldo de Campos) e fizermos uso da licença poética para recriarmos os mais diversos efeitos sonoros (aliterações, rimas, assonâncias), seguindo uma métrica tão fluida quanto a do original grego (o verso hexassílabo):


Baco,o filho de Zeus,
Deus de espírito livre,
Penetrando o meu peito
Entorpece festivo
Numa dança envolvente.
E eu, amante do vinho,
Desejo ter deleite.
Com canções e batidas,
Concede-me delícias
Qual se fosse Afrodite
E outras danças desejo...




English translation


Zeus's boy, the Bakkhos, the free-minded Luaios,
when He enters My craving heart making it drunk,
He tells Me to dance. I therefore cry out something for joy. 
With stamping rhythm, with song The Lover of wine
makes Me happy, as Aphrodite does. Again I want to dance.


Extraído de: WEVELINGEN, M. The Hellenic World: Library. . Acessado em: 03 jun. 2012.




Bouguereau, The youth of Bacchus, 1884.

*

jeudi 17 mai 2012

Πάντα πίνει: Tudo bebe


Πάντα πίνει

Diversas traduções da ode anacreôntica Πάντα πίνει ("Tudo bebe"), do original em grego, passando por versões em português, francês, inglês, espanhol e alemão.

Devemos fazer um primeiro esclarecimento: a diferença entre os textos (e traduções) consultados com relação ao termo αύρας e outro de sentido diverso, que aparece em seu lugar, ἀναύρους. O significado do primeiro é “brisa” (e está declinado no caso acusativo plural), enquanto o do segundo é “rio”, ou antes, é o nome próprio de um rio da Tessália (estando declinado também no plural do acusativo). De acordo com a preferência do tradutor, adota-se um ou outro termo, embora para a tradução mais literal possível escolheremos o termo “correntes”, que pode ser interpretado tanto como “correntes de ar”, quanto no sentido de “riachos”.



ἡ γῆ μέλαινα πίνει,
(A Terra negra bebe)
Πίνει δὲ δένδρε’ αὐτήν
(E bebem as árvores dela [da Terra])

Πίνει θάλασσα δ’αὔρας,
(Bebe o oceano das correntes)
Ὁ δ’ἤλιος θάλασσαν,
(E o sol [bebe] do oceano)
Τὸν δ’ἤλιον σελήνη.
(E do sol [bebe] a lua)
Τί μοι μάχεσθ’ ἑτῖροι,
(Por que combateis a mim, camarada,)
Καὐτῶ θέλοντι πίνειν;
(Que quero, também eu próprio, beber?)


Adotando o verso hexassílabo (ou “heroico quebrado”) como correspondência à ligeireza do original escrito por Anacreonte (563-478 a.C.), e tentando construir sonoridades a partir do uso (e abuso) de aliterações, além de rimas imperfeitas (ou “toantes”), ainda que o idioma grego não fizesse uso de tal recurso, chegamos à seguinte solução:

A Terra negra bebe
& as ervas bebem dela.
O Oceano bebe aos rios,
& o Sol que sorve o Oceano
dissolve-se na Noite.

Se tudo bebe, amigos,
por que também não posso
eu próprio dar um gole?



Vale ainda mencionar, a título de curiosidade, as diferentes traduções desta canção anacreôntica.

 
Ronsard (1524-1585)

La terre les eaux va boivant,
L’arbre la boit par sa racine,
la mer salée boit le vent,
et le soleil boit la marine. 



Comentadores da obra de Shakespeare citam esta tradução de Ronsard como possível fonte de inspiração para os seguintes versos do “bardo” inglês:

“The sun’s a thief, and with his great attraction
Robs the vaste sea; the moon’s an arrant thief
And her pale fire she snatches from the sun;
The sea’s a thief, whose liquid surge resolves
The moon into salt tears; the earth’s a thief
That feeds and breeds by a composture stolen
From general excrement ‑ each thing’s a thief.”



Esteban Manuel de Villegas (1589-1699)

Bebe la tierra fértil
y a la tierra las plantas,
las aguas a los vientos,
los soles a las aguas,
y a los soles las lunas
y las estrellas claras.
¿Pues por qué la bebida
me vedáis, camaradas?



Charles Cotton (1630-1687)
Paraphras'd from Anacreon

The Earth with swallowing drunken showers
Reels a perpetual round,
And with their Healths the Trees and Flowers
Again drink up the Ground.

The Sea, of Liquor spuing full,
The ambient Air doth sup,
And thirsty Phoebus at a pull,
Quaffs off the Ocean's cup.

When stagg'ring to a resting place,
His bus'ness being done,
The Moon, with her pale platters face,
Comes and drinks up the Sun.

Since Elements and Planets then
Drinks an eternal round,
'Tis much more proper sure for men
Have better Liquor found.
Why may not I then, tell me pray,
Drink and be drunk as well as they?



Eduard Mörike (1804-1875)

Die schwarze Erde trinket,
So trinken sie die Bäume,
Es trinkt das Meer die Ströme,
Die Sonne trinkt die Meere,
Der Mond sogar die Sonne,
Was wollt ihr doch, oh Freunde,
Das Trinken mir verbieten? 



Henry M. Tyler (1800-1885)

The dark earth drinks;
and trees drink her.
The sea drinks the streams;
the Sun, the sea; 
and the moon, the sun.
Why fight with me, mates, 
with my wanting also to drink?



Leconte de Lisle (1818-1894)

La noire terre boit la pluie, 
et les arbres boivent la terre,
et Hèlios boit la mer,
et Sélèné boit Hèlios.

Pourquoi donc, mes amis, 
me défendez-vous de boire ?