jeudi 8 décembre 2011

Labor concreto


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& se não perceberam que poesia é linguagem & se não aprenderam com Poe & Mallarmé & Valéry sobre Mallarmé que poesia é linguagem & se não perceberam com Pound sobre Camões que poesia não é bem literatura & com Maiakóvski que a poesia só admite uma forma concisão precisão das fórmulas matemáticas & se não perceberam com Sousândrade & Oswald (João Miramar & Poesias Reunidas finalmente de novo na praça – que vocês estão esperando?) & com os poetas concretos que poesia é linguagem (& não língua) & que o que se costuma chamar de poesia chegou ao fim & se sequer perceberam que a palavra escrita é apenas uma codificação convencional da palavra falada & se ainda se preocupam com a correção ortográfica & não se aperceberam das novas realidades gráficas tipográficas magnetofônicas audiovisuais & se não perceberam isso muito menos vão perceber que a nova poesia nasceu sob os seus narizes por um descuido do sistema & esta revolução permanente é protótipo & não tipo & alimenta a invenção contínua da linguagem & chegou ao fim o que se costuma chamar de poesia & chegou ao começo a poesia concreta que eles tendem a não chamar de poesia & é explicável & ainda bem & Nathalie Sarraute chegou aqui & disse uma coisa exepcional & disse que uma coisa só pode ser considerada belo dentro de padrões já existentes & o belo só existe dentro de padrões & já estas coisas vão por nossa conta & você não reconhecerá o belo no signo novo é óbvio & a busca do belo conduz ao esteticismo & a busca do eidos belo é coisa de idiotas & alienados & o belo se existe só existe útil & momentaneamente na sociedade de consumo em massa por uma lógica estatística de preferência & se vocês quiserem as coisas muito bem explicadinhas nos seus mínimos detalhes nós não vamos fornecer & nós não temos feito outra coisa há mais de dez anos agora chega & se vocês quiserem para começar leiam a Teoria da Poesia Concreta provavelmente na Biblioteca Municipal de S. Paulo & se vocês detestam a poesia concreta procurem o verbete semantics na ençaiclopídia britannica para saber de mil formas de corromper os moços vide Pirandello Os velhos e os moços & uma delas é a defesa do verso & os moços defenderão o verso até a morte & tudo serve para defender o verso a começar pela psicologia ah o mistério da criação & a psicologia experimental que é a única que conta já partiu para a linguagem & a poesia experimental que é a única que conta é a linguagem das linguagens ao nível sensível como a matemática o é ao nível da lógica & lançam mão de tudo para salvar o verso ritmo linear lógica aristotélico-discursiva inerente aos sistemas linguísticos não-isolantes (as coisas muito bem explicadinhas…) & lançam mão do folclore outra vez que chato & se necessário lançarão mão da palavra nacionalismo & o que estamos vendo de novo em processo é a provincianização da cultura & não é à toa que certos trechos do Bicho lembram o Juca Mulato & que na capa da Revista Civilização Brasileira aparece aquele pescador típico dos velhos bons tempos & a rede de nylon não apodrece não precisa secar pesa sete vezes menos & os grandes países pesqueiros com barcos-fábrica e sonar para localizar cardumes são os primeiros interessados em financiar o nosso folclore… & mais a praga do neo-colonial nos móveis & imóveis & a praga de praxis concreto aguado & os críticos sociológicos são os novos gramáticos & João Gilberto foi mandado às favas & hoje nos deliciamos com A Banda & Disparada é claro que o consumo busca o seu leito natural na média comunicativa & Oswald mostrou que é possível radicalizar-se a média com Sócrates & Tarzan & que são revoluções sendo radicalizações da média? & tudo serve para salvar o verso & é preciso pensar em termos de VERSUS & Erik Satie realizou ao nível semântico-pragmático o que Webern realizou no sintático & da forma nasce a idéia disse Flaubert & a Teoria da Informação & Marshall McLuhan estão comprovando & é preciso distinguir entre conteúdo e significado para não parafrasear conteúdos já catalogados & sim criar SIGNIficados novos função de poeta & certa vez um bi-acadêmico poeta de “vanguarda” nos disse: o arco não pode permanecer tenso o tempo todo um dia tem de afrouxar & um dia vocês têm de afrouxar & nós: na geléia geral brasileira alguém tem de exercer as funções da medula e de osso &



Décio Pignatari

(Publicado originalmente em Invenção n. 5, ano 6, Dez. 1966-Jan 1967, São Paulo, Edições Invenção)

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